O Governo da Balbúrdia

Universidades federais podem paralisar aulas e pesquisas após o bloqueio anunciado pelo novo ministro da Educação.

Em 09/05/2019 17h35 , atualizado em 10/05/2019 18h11

Por Adriano Lesme
Ministro Weintraub explica os cortes ao lado do presidente Bolsonaro. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Ministro Weintraub explica os cortes ao lado do presidente Bolsonaro. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Crédito da Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil
Imprimir
A+
A-
Facebook
X
WhatsApp
Play
Ouça o texto abaixo!
1x

Desde a campanha para presidente, Jair Bolsonaro aponta inimigos que devem ser combatidos para o desenvolvimento do Brasil. Esquerdistas, petistas, “comunistas”, Globo, Folha de São Paulo, Direitos Humanos são alguns dos inimigos do país, segundo o presidente. Agora, a bola da vez são as universidades federais, mais especificamente os cursos de Humanas.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

No final de abril, o atual ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o bloqueio de 30% dos recursos de três universidades federais: Fluminense (UFF), de Brasília (UnB) e da Bahia (UFBA). O motivo: estavam promovendo balbúrdia. De acordo com Weintraub, essas e outras universidades estavam organizando eventos políticos e festas com “gente pelada dentro do campus”, enquanto o desempenho acadêmico deixava a desejar.

A declaração que não combina em nada do que se espera de um ministro da Educação, causou estranheza e revolta nas universidades. As três instituições citadas estão bem posicionadas em rankings de qualidade, como o Times Higher Education e o QS World University Rankings, ou seja, a alegação de baixo desempenho acadêmico não condiz com a realidade. Além disso, o ministro não exemplificou nenhum evento que ele considera balbúrdia. Debates políticos existem desde que a primeira universidade foi criada. Ele quer censurar os debates como na época da Ditadura?

Weintraub é o segundo ministro da Educação de Bolsonaro em quatro meses de governo. Antes dele, o colombiano Ricardo Vélez foi demitido após uma série de polêmicas, como pedir para escolas filmarem alunos falando o slogam da campanha de Bolsonaro, querer mudar livros para falar que a Ditadura não existiu e dizer que brasileiros roubam coisas de hotéis quando viajam para o exterior.

Depois da declaração polêmica, Weintraub anunciou que o bloqueio seria estendido a todas as instituições federais (institutos e universidades), hospitais universitários e Fundo de Financiamento Estudantil (FIES). Mais de R$ 2 bilhões foram cortados, o que impede que as instituições terminem o ano letivo. Os reitores das universidades federais de Goiás e Santa Catarina (UFSC), por exemplo, afirmaram que o corte irá interromper as aulas no início do segundo semestre.

O Governo Federal explicou os cortes dizendo que o dinheiro seria investido na educação básica, mas logo depois congelou também recursos em programas do ensino infantil ao médio. Somente os colégios militares, tão elogiados por Bolsonaro, não foram afetados.

Para agravar a situação, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) suspendeu a concessão de bolsas de mestrado e doutorado, um duro golpe na educação e ciência no Brasil. As bolsas, cujos valores já eram baixos, são a única fonte de renda de vários pesquisadores e cientistas do país.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Reação das universidades

Esta semana, várias universidades e institutos federais protestaram contra os cortes, como UFF, UFBA, UnB, UFMG, UFAL, UFCG, UFMA, UFAC, IFTM, IFG e até na USP, que é estadual. Na UFSC, por exemplo, estudantes se reuniram para decidir sobre paralisação. Um grande protesto também está sendo organizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) para o dia 15 de maio.

Na internet, estudantes e instituições fazem postagens mostrando realizações científicas que tiveram nos últimos anos e prêmios internacionais que receberam. Muitas publicações satirizam o termo balbúrdia usado por Weintraub. 

Mais um gol da Alemanha

Na mesma semana que o Brasil anunciou o corte nas universidades, a Alemanha anunciou um investimento de 160 bilhões de euros em universidades e pesquisas. Um eterno 7x1. Segundo a ministra da Educação da Alemanha, o investimento garantirá a prosperidade do país. Enquanto isso, nosso presidente acha mais importante armar a população. 

Qual a definição de um governo que investe em armas e corta recursos da educação? Eu chamo de balbúrdia.

Relacionados


Blog do Vestibular

2019: um péssimo ano para a Educação no Brasil

Ricardo Vélez e Abraham Weintraub colecionaram polêmicas e ataques como ministros da Educação. Relembre os casos.
Blog do Vestibular

A Educação brasileira pede socorro

Agressão sofrida por professora em Santa Catarina é reflexo do descaso do Governo com a educação brasileira.
Blog do Vestibular

Centenário de Dorina Nowill: uma vida de luta pela inclusão na educação

Conheça Dorina Nowill, educadora e ativista que lutou pela inclusão de cegos na educação e mercado de trabalho.
Blog do Vestibular

Escola sem Partido: retrocesso na Educação e propagação da homofobia

O projeto de lei Escola sem Partido, apoiado pela bancada da Bíblia, pretende proibir o uso das expressões gênero e orientação sexual nas salas de aula. A medida é polêmica e mostra um retrocesso na liberdade de expressão e nos direitos humanos.
Blog do Vestibular

Importância da educação nas unidades prisionais e socioeducativas

Detentos de unidades prisionais e reeducandos que cumprem medidas socioeducativas encontram na educação uma forma de serem reinseridos na sociedade, driblando a precariedade de parte do sistema prisional brasileiro.
Blog do Vestibular

Malala no Brasil: a importância da jovem paquistanesa na luta pela educação de mulheres

Conheça Malala Yousafzai, símbolo da luta de mulheres pelo direito à educação, mais jovem premiada o Nobel da Paz. A ativista esteve no Brasil neste mês de julho para falar sobre questões ligadas à educação e anunciar o patrocínio para três escolas brasileiras, tendo o foco no ensino de meninas.
Blog do Vestibular

Passado-se: as greves podem voltar

Universidades federais ameaçam paralisar as atividades, caso o MEC não desbloqueie as verbas para o segundo semestre. Greves podem voltar.
Blog do Vestibular

Tragédias em escolas e a importância da psicologia no ambiente educacional

Aumento de casos de violência relacionados a jovens e envolvendo escolas têm chamado atenção no Brasil e preocupado a sociedade. Psicologia educacional é opção para prevenir tragédias.