Centenário de Dorina Nowill: uma vida de luta pela inclusão na educação

Dorina ficou cega aos 17 anos e, a partir de então, se dedicou ao ativismo pela acessibilidade no ensino

Em 28/05/2019 10h55 , atualizado em 28/05/2019 11h08

Por Lorraine Vilela Campos
Dorina Nowill lutou pela inclusão de cegos na educação e no mercado de trabalho - Créditos: Fundação Dorina Nowill
Dorina Nowill lutou pela inclusão de cegos na educação e no mercado de trabalho - Créditos: Fundação Dorina Nowill
Crédito da Imagem: Fundação Dorina Nowill
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O cenário da Educação no país é incerto e conturbado, mas os pontos positivos precisam ser lembrados para que a luta continue e o direito ao ensino seja algo real na vida da população. Nesta terça-feira, 28 de maio, comemora-se o centenário de uma figura importante na acessibilidade e inclusão, Dorina Nowill, ativista e educadora brasileira que transformou o acesso à educação e literatura por meio da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, hoje Fundação Dorina Nowill.

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Veja também: Universidade desenvolve glossário de Mecânica para estudantes cegos

A paulista Dorina Gouvêa Nowill ficou totalmente cega aos 17 anos, em 1936, e nunca teve o diagnóstico concreto do que motivou a perda de sua visão. Mesmo com as limitações da época, ela não desistiu dos estudos e se matriculou em uma escola regular, sendo a primeira estudante cega a frequentar este tipo de instituição no chamado "curso Normal". 

Empatia 

Desde jovem Dorina percebeu a necessidade de mobilização para que as pessoas com cegueira total ou parcial pudessem seguir seus estudos e serem inseridas no mercado de trabalho. Com isso, Nowill aproveitou o seu período escolar para desenvolver um método que promovia a educação de crianças cegas, uma iniciativa que resultou no "I Curso de Especialização de Educação de Cegos na América Latina", na década de 1940. 

Luta pela inclusão

Dorina sempre buscou a inclusão social de pessoas com deficiência e se especializou em educação de cegos no Teacher´s College da Universidade de Columbia. A educadora fez contatos com fundações dos EUA e conseguiu doações de maquinário e material para ampliar a produção de material acessível. 

A Fundação para o Livro do Cego no Brasil começou suas atividades em 1946, proporcionando à população livros em braille e, posteriormente, audiolivros e outras ferramentas de acessibilidade de forma gratuita. Décadas depois, a organização passou a se chamar Dorina Nowill. Em toda a sua existência, a Fundação foi responsável pela produção de mais de 6 mil livros adaptados, mais de 2.700 audiolivros e 900 títulos digitais. 

Além da fundação, Dorina fez parte do Ministério da Educação e conquistou a implantação de serviços de educação de cegos em todos os estados brasileiros. Lutou pela adoção de resoluções voltadas para o encaminhamento de pessoas com deficiência ao mercado de trabalho, além de buscar que os governos oferecessem programas de reabilitação e treinamento para cegos. 

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Prevenção de doenças

Dorina ficou cega na década de 1930, época em que a Oftalmologia não era tão avançada. O motivo de sua cegueira nunca foi descoberto pelos médicos, talvez por isso a educadora tenha incluído em seu ativismo a busca pela prevenção de doenças que possam causar a perda da visão.

Como ações na prevenção da cegueira conseguiu a reunião do Conselho Mundial Para o Bem Estar do Cego, do qual foi presidente, com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia e a Associação Panamericana de Saúde, em 1954, no Brasil. Além disso, sua fundação promove até os dias de hoje atendimento oftalmológico no serviço de clínica. 

Caminho a ser trilhado

O Brasil evoluiu bastante na inclusão de pessoas com deficiência no ambiente escolar, mas muito ainda deve ser melhorado. O ensino superior está mais preparado para receber estudantes com limitações, o que é um desafio maior para o ensino básico. Com investimentos insuficientes por parte do governo em estrutura, material didático e laboratórios, as escolas encontram dificuldade em atender satisfatoriamente estudantes com os mais diferentes tipos de deficiência. 

É nesse cenário que entram pessoas com interesse em ajudar e lutar por melhorias, como fez Dorina, não deixando que o sonho de uma educação justa morra. Estudantes de iniciação científica e seus professores utilizam o espaço acadêmico para criar ferramentas de ensino acessível que possam ser utilizados pela população, sem fins lucrativos, assim como iniciativas de voluntários levam para crianças a contação de histórias como forma de aprendizado em bibliotecas públicas. 

Veja também: 70 anos da Declaração dos Direitos Humanos

Que a luta pela educação siga independente das barreiras políticas e econômicas e o ensino de qualidade seja uma realidade - não apenas um sonho - para qualquer pessoa. Democracia se faz com a garantia igualitária dos Direitos Humanos, dentre os quais está a garantia à Educação.

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