O primeiro curso superior de Inteligência Artificial (IA) é o da Universidade Federal de Goiás (UFG) e foi criado em 2019. Primeira turma da graduação se formou em março do ano passado e chegou a faturar mais de R$ 1 milhão somente ao longo do curso.
Como diferencial, a formação é direcionada para o empreendedorismo e possui relação próxima com grandes empresas do mercado de trabalho. Estudantes começam a desenvolver soluções tecnológicas de IA no começo da faculdade, o que reforça seu caráter prático.
Gustavo Barros (19), aluno do primeiro ano, começou a faturar já no primeiro semestre e hoje atende mais de 5 mil alunos de redes de academias com uma assistente virtual.
Na edição de 2025 do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), o curso de IA teve a nota de corte mais alta entre todos os cursos da UFG, maior que de Medicina que liderava há anos.
O Brasil Escola visitou as salas e laboratórios do curso e conversou com alunos, professores e ex-estudantes que estão atuando na área. Confira no vídeo a seguir:
Inscrições para o Vestibular 2026 da UFG foram abertas nesta segunda-feira (4) e seguem até 5 de setembro. Para o curso de IA, são ofertadas 20 vagas para ingresso no próximo ano. Provas acontecerão no dia 19 de outubro.
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Como é o curso de IA na prática?
O curso de bacharelado em Inteligência Artificial da UFG é oferecido em quatro anos (oito semestres). O objetivo é formar profissionais que sejam capazes de resolver problemas complexos por meio de IA, incluindo sistemas embarcados e autônomos, a partir de uma perspectiva inovadora e empreendedora.
Projetos práticos dos estudantes de IA
Confira a seguir projetos práticos desenvolvidos por estudantes do primeiro ano de IA da UFG.
Assistente virtual para academias
A paixão pela tecnologia levou o jovem Gustavo Barros, de 19 anos, a entrar no curso de IA. Ele conta que no primeiro semestre da graduação, o professor incentiva os alunos a criarem e desenvolverem um projeto para apresentar ao mercado de trabalho.
Assim nasceu a Neurofit, sua própria marca e empresa. Uma solução tecnológica que oferece assistência virtual a pessoas matriculadas em redes de academia. Em poucos meses, já são mais de 5 mil pessoas atendidas pelo projeto do Gustavo.
Crédito: Divulgação.
Integrada e complementar ao ecossistema da academia, a IA foi construída a partir dos modelos de linguagem natural e, por isso, garante um atendimento humanizado. O estudante comenta que é possível escolher o tom em que ela fala, o nível de carisma, criatividade e comportamento.
Com ela, é possível enviar mensagens personalizadas a cada matriculado na academia, como, por exemplo, parabenizar determinado cliente pela frequência.
Plataforma educacional
Para a estudante Júlia Souza (19), os professores do curso de IA contam com uma abordagem diferenciada, com foco no empreendedorismo, permitindo com que os estudantes explorem habilidades enquanto empreendedores.
Sua colega, Jamily (18), saiu de Cuiabá para fazer a faculdade na UFG, em Goiânia (GO). A jovem destaca que não há muita cobrança por parte dos docentes e que os alunos trabalham com mais atividades práticas.
Juntas, as estudantes desenvolveram a Clareia, uma plataforma de IA direcionada a vestibulandos que estão em fase de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), hoje, principal forma de entrada para o ensino superior.
A Clareia cria quizzes e flashcards para ajudar nos estudos e tornar o processo mais dinâmico. O sistema funciona de forma gamificada em que o estudante consegue conquistas na medida que avança no desempenho dos desafios.
Sobre a presença e representatividade de mulheres em áreas como IA, que são ocupadas majoritariamente por homens, Jamily e Júlia destacam a importância de ocupar espaços de produção como estes.
"Percebo que há uma defasagem entre a quantidade de homens e mulheres nessa área da tecnologia, mas é extremamente importante que as meninas tenham esse interesse nesta área, pois as mulheres têm realmente esse potencial de alavancar o setor"
Júlia Souza - Estudante de IA da UFG
IA na moda
Pensando no mercado da moda e na dificuldade que muitos consumidores têm de escolher uma roupa ideal, o grupo de estudantes formado por Cibelle Pires (22), Yasmin Mageste (18), Julia Biancolini (18) e Gustavo Fontana (18) desenvolveram a VesteAI, uma plataforma que realiza a partir de IA a colorimetria e processos relacionados à imagem pessoal, ajudando os usuários na escolha da roupa e cores mais adequadas para cada um.
A ideia é aplicar o sistema em sites de vestuário para ajudar na hora da compra virtual. Nesse sentido, a ferramenta ajuda as pessoas na escolha do que vestir, evitarem o desperdício de dinheiro, bem como reduzir a insegurança para esse tipo de compra.
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Curso de IA e o mercado de trabalho
Um dos diferenciais da graduação de IA da UFG é a aproximação do mundo corporativo com o universo acadêmico, destaca Rogério Lopes, pesquisador e cientista de dados do Instituto Ciência e Tecnologia do Itaú (ICTi).
Há duas décadas, existia uma separação muito evidente, um "abismo" segundo Rogério, entre a universidade e o espaço corporativo. Para o pesquisador, é essencial manter essa aproximação para que a sociedade seja impactada de forma mais direta com o que é produzido nas instituições de ensino superior.
Atualmente são conduzidos mais de 70 projetos de inovação com empresas e cerca de 85% dos estudantes recebem bolsas custeadas pelas corporações.
Crédito: Lucas Afonso.
Formado em IA
Heinz Felipe (23) se formou em IA pela UFG, na primeira turma em 2024. O profissional relata que quando entrou no curso, não era visto simplesmente como um calouro, mas sim como um pesquisador júnior.
Segundo Heinz, os projetos de pesquisa desenvolvidos na faculdade estão relacionados com demandas do mercado. Na sua experiência, chegou a apresentar um trabalho para a Companhia Paranaense de Energia (Copel).
Em sua formação, chegou a estudar e trabalhar com robô quadrúpede aplicado à plantação de soja, bem como com geração de arte com uso de IA. Ter vivenciado diversas áreas beneficiou não somente a ele como também aos seus colegas que saíram todos empregados, compartilha.
Após formado, trabalhou para empresas do Canadá e da Holanda. Atualmente, está atuando na área de criação de startups do próprio curso de IA da UFG.
Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA)
O Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA) da UFG é um polo de inovação que atua no desenvolvimento de projetos e soluções de impacto com uso de dados e IA. Fundado em 2019, a iniciativa funciona com a colaboração da universidade, governo e empresas.
Telma Soares, diretora-executiva do CEIA, explica que por lá são desenvolvidos projetos de IA em parceria com empresas privadas e públicas para impulsionar o setor de inteligência artificial no Brasil e promover a inovação.
Ao longo dos mais de cinco anos de história, foram mais de R$ 40 milhões investidos em infraestrutura, mais de 750 colaboradores, projetos nacionais e internacionais e um selo AI Nations Nvidia, da empresa de processadores estadunidense.
Laboratório de tecnologias imersivas
Em maio de 2025, a UFG inaugurou o Laboratório Avançado de Tecnologias Imersivas do Centro de Competências Embrapii (Akcit). Este espaço laboratorial conta com tecnologia de ponta, sendo um dos mais bem equipados da América Latina.
O Akcit busca estimular pesquisas disruptivas, acelerar a inovação e desenvolver projetos em parceria com empresas e instituições nacionais e internacionais. O investimento foi de aproximadamente em R$ 2,5 milhões em infraestrutura e equipamentos.
Disciplinas do curso de IA da UFG
Fique por dentro de quais as matérias que os estudantes do curso de IA cursam ao longo dos quatro anos de graduação:
- Introdução à Programação
- Lógica Matemática
- Empreendedorismo
- Cálculo
- Algoritmos
- Programação
- Computação e Sociedade
- Transformação Digital
- Análise e Projeto de Algoritmos
- Banco de Dados
- Probabilidade e Estatística
- Pensamento Analítico de Dados
- Álgebra Linear
- Arquitetura de Computadores
- Aprendizado de Máquina Supervisionado
- Processamento Digital de Sinais e Imagens
- Redes de Computadores
- Visão Computacional
- Heurística e Modelagem Multiobjetivo
- Computação de Alto Desempenho
- Redes Neurais Profundas
- Internet das Coisas
- Processamento de Linguagem Natural
- Aprendizado por Reforço
- Processamento de Dados Massivos
- Percepção e Ação Robótica
- Processamento de Áudio e Voz
- Pesquisa e Inovação
- Residencia em Inteligência Artificial
O curso é oferecido no Instituto de Informática (INF), localizado no Campus Samambaia da UFG, em Goiânia (GO).
Saiba mais sobre o curso, formação e carreira de Inteligência Artificial
Curso e mercado de trabalho da Inteligência Artificial
O professor e coordenador do curso de IA da UFG, Anderson Soares, comenta no vídeo abaixo como é a formação e mercado de trabalho na área:
Inscrição para Vestibular 2026 de IA
A inscrição para o Vestibular 2026 do curso de IA da UFG está aberta até 5 de setembro. Pedidos da isenção da taxa, que custa R$ 130, serão recebidos até o próximo dia 14.
O exame será aplicado no dia 19 de outubro e contará com 96 questões objetivas em apenas uma fase.
Esta edição retoma o processo seletivo da instituição goiana que agora oferece oportunidade tanto pelo vestibular quanto pelo SiSU. Lembrando que as inscrições do SiSU abrem uma vez ao ano e utiliza a nota do Enem mais recente.
Mais informações podem ser consultadas no edital do Vestibular 2026 da UFG.