O tema da redação do Enem 2025 foi "Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira". Prova aconteceu ontem (9) e também contou com as questões de Ciências Humanas e Linguagens.
Segundo o Ministério da Educação (MEC), cerca de 3,5 milhões fizeram o exame no primeiro dia. Abstenção foi de 27%.
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Exemplos de redação do Enem 2025 sobre envelhecimento
A seguir, leia exemplos de redação do Enem 2025 sobre envelhecimento produzidas por professores da área:
Fernanda Becker, professora da plataforma Redação Nota 1000
Na obra autobiográfica “Uma Mulher”, a autora francesa Annie Ernaux discorre sobre o processo degenerativo de envelhecimento da sua mãe, falecida em decorrência de um Alzheimer, aos 79 anos. Apesar de se tratar de um livro estrangeiro, a publicação pode suscitar discussões importantes acerca das perspectivas de envelhecimento da população brasileira, uma vez que a velhice, enquanto tema universal, carece de atenção, sobretudo quando consideradas as ameaças frequentes aos direitos e à dignidade dos idosos em território nacional. Assim, entre as circunstâncias que perpetuam o problema, é possível citar a dificuldade de acesso ao mercado de trabalho e a insuficiência do atendimento público de saúde.
Em primeira análise, cabe examinar as dificuldades enfrentadas por idosos no acesso ao mercado de trabalho. Nessa perspectiva, o filme “A Substância” narra a história de Elizabeth, uma atriz e apresentadora que logo é substituída por uma mulher mais nova. Fora da ficção, a obra dialoga com o cenário brasileiro na medida que expõe o funcionamento geral do mercado de trabalho, que privilegia cidadãos mais novos pela crença etarista de que pessoas idosas são menos produtivas, criativas ou ambiciosas, o que ignora os anos de experiências e atividade dessa parcela populacional. Como consequência, problemas financeiros são comuns nessa idade, acarretando o endividamento progressivo. Ademais, a rejeição social pode levar ao isolamento e à fragilização da saúde mental, como o desenvolvimento de depressão e de baixa autoestima. Desse modo, é fundamental a dissolução dessa mentalidade, para que a população idosa possa se integrar, de maneira digna, à sociedade.
Em segunda análise, faz-se necessário pontuar a defasagem no atendimento à população idosa no sistema público de saúde brasileiro. Embora o Sistema Único de Saúde atenda a todos os brasileiros, a perspectiva de inversão da pirâmide populacional, projetada para as próximas décadas pelo IBGE, impõe ainda mais pressão sobre uma política já sobrecarregada, o que é comprovado por dados da OMS, que apontam que os custos de saúde com idosos são maiores do que com outras populações. Além disso, a importância do sistema também é comprovada pelo Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), que indica que 75% dos idosos brasileiros utilizam apenas o sistema público de saúde. Dessa forma, é preciso ampliar o atendimento atual, englobando todos os idosos de maneira ágil e eficiente, com o fito de promover uma melhora na perspectiva da longevidade no país.
Portanto, considerando as inseguranças relacionadas ao envelhecimento populacional no contexto brasileiro, é evidente que medidas resolutivas são imprescindíveis. Diante disso, é necessário que o governo, por meio da figura do Ministério do Trabalho, realize ajustes na legislação trabalhista, criando novas normas que garantirão uma maior segurança aos idosos no mercado laboral. Em adição, é preciso que o Ministério da Saúde amplie e agilize o atendimento ao idoso no Sistema Único de Saúde, por meio da construção de hospitais do idoso e da contratação de mais profissionais de saúde, de modo a abarcar toda essa parcela populacional, ocasionando, assim, em uma maior qualidade de vida à terceira idade. Dessa forma, idosos como a mãe de Annie Ernaux, retratada na obra “Uma Mulher”, terão uma velhice melhor resguardada, com acesso pleno à saúde e ao mercado de trabalho, e o Brasil se tornará uma pátria mais igualitária.
Júnior de Matos, professor do Colégio Ari de Sá
O ditado popular "Panela velha é que faz comida boa" – amplamente conhecido no Brasil – apresenta, por meio de um raciocínio metafórico, a ideia de que quem tem mais idade acumula experiência e sabedoria, sendo os elementos responsáveis pela conquista de alta eficiência. Apesar de essa expressão idiomática fazer parte do patrimônio linguístico brasileiro e apontar uma forma positiva de pensar o envelhecimento no país, não se pode afirmar que, na nação, as comuns perspectivas acerca do envelhecer são benéficas ao idoso, havendo estigmatização e marginalização da terceira idade, problemáticas vinculadas a uma inadequada postura midiática e a uma negligência estatal.
Sob esse viés, cabe entender como a mídia tem fomentado um raciocínio inapropriado sobre a velhice. Em prol desse entendimento, é válido fazer referência ao filme “A Substância”, no qual a personagem vivida por Demi Moore, ao estar em um contexto em que só será admirada se parecer jovem, recorre a um experimento que lhe devolve a juventude, revelando a pressão social que transforma o envelhecer em motivo de vergonha. Apesar de ficcional, a obra retrata adequadamente a obsessão social pela aparência jovial, algo visto no Brasil quando campanhas publicitárias, novelas e redes sociais privilegiam corpos jovens, associando beleza, sucesso e felicidade à ausência de rugas e à vitalidade física. Consequentemente, na nação, a figura da pessoa idosa acaba sendo desvalorizada, situação que demonstra a presença do etarismo — discriminação por idade — na sociedade, sendo comum os anciões se sentirem invisíveis ou inadequados. Desse modo, evidencia-se que a forma como os meios de comunicação projetam o ideal de juventude atua como obstáculo à consolidação de uma perspectiva positiva acerca da velhice.
Além disso, vale compreender de que modo o Estado é negligente com a terceira idade. Para tornar tal compreensão crítica, é oportuno mencionar que, em 2013, conforme matéria do jornal O Globo, durante reunião governamental, o então ministro de finanças do Japão protagonizou uma polêmica ao dizer que os idosos em estado terminal deveriam “se apressar e morrer” para poupar despesas governamentais com a saúde pública. Embora tenha ocorrido no Oriente, tal fala representa uma perspectiva sobre a velhice comum também no Ocidente, muito nítida no Brasil, por exemplo, onde gestores públicos, ao não entenderem o envelhecimento populacional como uma conquista louvável que representa a garantia, de modo amplo, do mais básico direito humano: a vida, não priorizam políticas públicas voltadas à terceira idade. A título de ilustração, no território brasileiro, a geriatria não é alvo de devido investimento no setor público de saúde, o lazer gratuito adaptado às necessidades dos anciões ainda é raro e o mercado de trabalho segue avesso aos mais velhos por não haver programas estatais efetivos que mudem isso. Desse modo, confirma-se que o Estado precisa alterar a postura que adota em relação à faixa etária em foco.
Portanto, fica nítido que as perspectivas sobre envelhecer no Brasil estão problemáticas devido a questões que envolvem tanto a mídia quanto o Estado. Nesse cenário, é preciso que o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, além de adotar um plano nacional de políticas voltadas às necessidades diversas da terceira idade, dissemine, por meio de parcerias com os grandes meios de comunicação, por exemplo, a televisão aberta, o rádio e as redes sociais, campanhas protagonizadas por idosos ativos e felizes que mostrem como vivem com plenitude e como contribuem para a sociedade, com a finalidade de desconstruir um imaginário etarista que se consolidou na nação. Assim, agentes midiáticos e estatais estarão estimulando perspectivas positivas sobre o envelhecimento, como a exposta pelo ditado "Panela velha é que faz comida boa".
Denise Leal Franco, autora de Redação do Fibonacci Sistema de Ensino
"Outrora, a velhice era uma dignidade; hoje, ela é um peso”. Esse pensamento do escritor e político Chateaubriand expressa como alguns idosos são vistos no Brasil: uma sobrecarga tanto para o poder público quanto para muitos dos familiares dos sêniores. Nesse sentido, é fundamental analisar as perspectivas acerca do envelhecimento no território nacional, a fim de assegurar aos anciãos a dignidade de outrora.
Diante de tal cenário, é válido ressaltar, inicialmente, que a Constituição de 1988, em seu artigo 230, determina que o Estado tem o dever de amparar a pessoa idosa. Entretanto, o que se nota, atualmente, é a inoperância dessa garantia constitucional, haja vista a mínima expressividade do Estado no que tange a assegurar aos 60+, em especial aos que acumulam desigualdades, o suporte necessário para viverem bem, visto que muitos idosos de baixa renda e que vivem em áreas periféricas enfrentam obstáculos para receberem atendimento médico de qualidade. Essa situação ocorre porque o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não se adaptou completamente às especificidades de atendimento que essa parcela populacional exige, por exemplo, contratação maior de geriatras, a fim de atender pacientes dessa faixa etária com doenças crônicas, como diabetes. Tem-se, como exemplo, pesquisa divulgada pelo jornal Estadão a qual expõe o déficit de 28 mil médicos especialistas na melhor idade no país. Com isso, devido à sobrecarga do sistema, inúmeros anciãos que moram em locais precários ficam sujeitos à demora na marcação de consultas, comprometendo o acompanhamento de suas enfermidades. Sendo assim, fica evidente a necessidade cumprir o que determina a Constituição.
Além disso, é mister salientar como o descaso de muitas famílias para com os seus idosos contribui para que as perspectivas do envelhecimento no Brasil não sejam as melhores. Nesse viés, a filósofa mineira Terezinha Azerêdo Rios constata que o idoso na cultura brasileira vale menos, ou seja, é tratado com menos humanidade. Essa constatação, de fato, encontra respaldo em solo nacional, ao se observar o modo como muitos familiares enxergam suas matriarcas e seus patriarcas: com desprezo, negligenciando cuidados e afetos. Uma das justificativas que os parentes tendem a dar para esse mau comportamento é a falta de tempo para dispender com os idosos. Porém, essa desculpa acaba por sinalizar o desprezo com que a terceira idade é vista, demonstrando que parcela da sociedade, na verdade, não se enxerga envelhecendo e, portanto, não consegue se ver na mesma situação. Essa realidade demonstra, então, a imprescindibilidade de desenvolver a empatia social.
Sendo assim, para melhorar as perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira, medidas exequíveis são necessárias. Para isso, o Ministério da Saúde, órgão responsável pelas políticas públicas desse setor, deve contratar mais geriatras, por meio de divulgação de vagas, principalmente para áreas mais carentes, com o objetivo de assegurar que idosos de baixa renda recebam atendimento adequado. Ademais, é dever do Estado, mediante campanhas e propagandas, desenvolver a empatia social, com o propósito de chamar a atenção de famílias sobre a responsabilidade que elas têm de cuidar de seus idosos. Desse modo, será possível fazer os brasileiros voltarem a tratar os anciãos com a dignidade que merecem.
João Vinícius Albuquerque Pimentel e Aline Benevides, professores de Redação do Poliedro
No filme “Um Senhor Estagiário”, é retratada a história de um senhor que, aos 70 anos, tenta retornar ao mercado de trabalho, contudo, enfrenta dificuldades para ser contratado por causa de preconceitos relacionados à sua idade. A atitude de estigma retratado no filme, em certa medida, é recorrente com a população idosa brasileira, já que visões estereotipadas são, muitas vezes, reproduzidas pela sociedade e pelos meios midiáticos. Soma-se a isso o fato de que muitos idosos, mesmo após se aposentar, têm de buscar novas fontes de renda para custear os cuidados decorrentes da velhice. Cabe discutir, assim, que há perspectivas negativas acerca do envelhecimento da população brasileira, na medida em que, sob a ótica do capitalismo, o indivíduo só tem valor quando produtor de riqueza, o que perpetua um culto à juventude.
A visão de indivíduo enquanto produto contribui para a desvalorização do envelhecimento. Isso ocorre, porque o capitalismo, ao objetivar o lucro, costuma valorizar aqueles que, de alguma forma, atuam no sistema, seja produzindo, seja consumindo, de forma que aquilo que não mais o favorece é descartado. Os idosos, por não estarem muito inseridos nessa lógica, acabam tendo pouca função, o que contribui para a construção de uma mentalidade preconceituosa a respeito deles, os quais passam a ser vistos socialmente como incapazes, frágeis e lentos – especialmente frente à velocidade com que as tecnologias e a economia se expandem. Tal concepção faz com que, mesmo quando os idosos têm que continuar no mercado de trabalho dada a necessidade financeira, por serem considerados improdutivos, eles sejam alvos de preconceitos, como retratado no filme “O Senhor Estagiário”. Dessa forma, o viés econômico conduz à marginalização dessa população.
Por conseguinte, desenvolve-se uma cultura de valorização da jovialidade. Esse fato decorre tanto da concepção capitalista como da indústria midiática, as quais disseminam cotidianamente rostos e corpos jovens, saudáveis e ágeis. A primeira, por exemplo, vende a produtividade como sinônimo de sucesso profissional e pessoal, que deve ser atingida por todos como uma forma de adequação a ele, o que requer vigor e pró-atividade. A segunda, de modo semelhante, difunde propagandas exaltando um padrão de juventude que pode ser alcançado por meio de procedimentos estéticos simples, como botox, harmonização facial e “peeling”, e por métodos que apagam outros traços do envelhecimento, como tintura de cabelo e vestimentas joviais; tudo isso como uma tentativa de conquistar uma aparência jovial e distanciar-se da velhice. Dessa maneira, observa-se que o culto à juventude traz barreiras para o envelhecimento populacional.
Em suma, a concepção de indivíduo como produto e a valorização da juventude configuram desafios para garantir o envelhecimento da população. Portanto, cabe ao Poder Executivo Federal, na figura do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, investir na modificação da visão social acerca da velhice, por meio de campanhas educativas veiculadas nas mídias e direcionadas à comunidade em geral, a fim de garantir visões mais positivas acerca dessa faixa etária. Desse modo, haverá uma sociedade que valoriza a sua experiência e a sua sabedoria, diferentemente do que acontece em “O Senhor Estagiário”.
Como foi o 1º dia de provas do Enem 2025?
O primeiro dia de provas do Enem 2025 aconteceu ontem, 9 de novembro. Segundo o Ministério da Educação (MEC), a abstenção do exame foi de 27%. Cerca de 3,5 milhões de participantes fizeram as provas.
A prova foi marcada por temas como meio ambiente, pressão estética, Igreja, períodos históricos. Professores apontam que em Ciências Humanas, a prova contou com questões mais conteudistas do que o convencional.
Para estudantes ouvidos pelo Brasil Escola, o exame teve uma carga menor de leitura.
Veja o comentário do coordenador pedagógico do Poliedro Curso, Raul Celestino de Toledo, sobre as provas de ontem:
Gabarito extraoficial do Enem 2025
O gabarito extraoficial do Enem 2025 está disponível no site do Brasil Escola. A correção comentada foi realizada pela equipe de professores do Curso Anglo:
Veja gabarito extraoficial do Enem 2025
Comentários pós-provas do Enem 2025
Logo após a realização das provas do Enem 2025, nos dois domingos do exame, o Brasil Escola e o Statera Cursos e Vestibulares farão uma live com comentários e análise das questões.
Assista aos comentários do primeiro dia de provas do Enem 2025
A transmissão acontece no canal do Youtube do Brasil Escola, a partir das 19h30.

