Adultização infantil na redação do Enem

A adultização é o processo de influenciar ou impor precocemente comportamentos e hábitos próprios de adultos às crianças, interferindo em seu pleno desenvolvimento.

Por Talliandre Matos
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A adultização infantil é o processo de influenciar ou impor precocemente comportamentos e hábitos próprios de adultos às crianças. Ela pode ocorrer de diversas formas e ter como agentes tanto a família como a mídia, por exemplo. Por ser um tema relevante para a sociedade atual, é fundamental estudá-lo de maneira aprofundada, embasando-se em livros, artigos e documentários confiáveis sobre o assunto.

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Resumo sobre adultização infantil

  • A adultização é o fenômeno de imposição de comportamentos e hábitos próprios de adultos precocemente a crianças.
  • A adultização pode ocorrer de forma sutil ou intensa.
  • Para abordar o tema da adultização, é necessário compreender o fenômeno de forma ampla e historicamente situada.
  • Consumir repertórios audiovisuais e livros pode ajudar no aprofundamento do tema.

O que é adultização infantil?

A adultização infantil é o nome dado à imposição precoce de comportamentos, hábitos, estéticas e responsabilidades próprias de adultos a crianças. Ela pode ocorrer de forma sutil, por meio de exposição a conteúdos inadequados ou da naturalização de uso de produtos estéticos em crianças, por exemplo; ou de forma mais intensa e perigosa, como por meio da imposição de responsabilidades indevidas, sexualização da estética e do comportamento infantil e até a comercialização da imagem adultizada de crianças.

Menina se maquiando diante de um espelho, em alusão à adultização infantil.
A adultização infantil pode ocorrer de modo sutil, pela naturalização de hábitos aparentemente inofensivos.

Dessa forma, o fenômeno é visto como uma violência simbólica à criança, comprometendo seu desenvolvimento pleno e interferindo em experiências fundamentais à infância, como o lúdico, a inocência, o brincar e a proteção. Embora tenha se popularizado recentemente, esse problema já existe na sociedade há anos e é estudado por diversos pesquisadores.

De acordo com as pesquisas de Vieira (2023) e Ferreguett (2014), os meios de comunicação em massa, como mídias sociais e publicidade, são alguns dos principais responsáveis pela adultização de crianças em suas comunicações e, consequentemente, pela difusão desses padrões estéticos ao público infantil.

Além disso, De Paula, De Marco e Schlosser (2019), em Adultização e erotização infantil: a influência social, demonstram que a família e a moda também são agentes do problema. Em 2025, o influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, publicou um vídeo em seu canal de YouTube denunciando a adultização infantil em redes sociais e impulsionou a discussão sobre o tema na esfera social e legislativa.

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Como se preparar para o tema da adultização infantil?

Para se preparar para o tema da adultização infantil, é fundamental se informar sobre o assunto de modo aprofundado e crítico, evitando conteúdos superficiais ou repetitivos no senso comum. Um bom texto argumentativo elabora o tema de forma crítica e contextualizada, exigindo cuidado e atenção às complexidades presentes. Abaixo seguem algumas dicas para esse tema:

  • Conheça o conceito: ter uma compreensão plena sobre o que é a adultização infantil é fundamental para desenvolver o tema, pois mostra que o problema não se limita apenas à erotização infantil, por exemplo, mas abarca outros comportamentos, como a responsabilização precoce.
  • Leia artigos científicos que abordam o assunto: eles fornecem um panorama histórico e fundamentado, dando um entendimento mais pleno sobre o problema, suas raízes e possíveis soluções.
  • Assista a filmes, séries, documentários e outros conteúdos de fontes confiáveis sobre o tema: eles ajudam a explicar o assunto de forma mais prática, muitas vezes com presença de depoimentos que ampliam a percepção sobre os impactos da adultização.
  • Destaque os principais agentes da adultização infantil: eles são os principais responsáveis pelo problema e é necessário compreender como o fazem e como é possível responsabilizá-los.
  • Destaque as consequências da adultização infantil: elas demonstram o impacto do problema e comprovam como isso pode ser uma violência para as crianças.

Dicas de repertório sociocultural sobre adultização infantil

Abaixo segue uma lista de repertório sociocultural pertinente e relevante para o tema da adultização infantil:

  • Filme Pequena Miss Sunshine: demonstra a responsabilização infantil e a idealização de padrões estéticos adultos para crianças em concursos de beleza infantis.
  • Toddlers & Tiaras (reality show infantil): mostra crianças participando de concursos de beleza infantis (serve para exemplificar a adultização infantil).
  • Livro O desaparecimento da infância, de Neil Postman: na obra, o autor defende a ideia de que a mídia coloca a infância em declínio devido à exposição a informações e experiências adultas precocemente.
  • Documentário Criança, a Alma do Negócio (2008): mostra como a publicidade infantil induz comportamentos adultos nas crianças, explorando suas vulnerabilidades e afetando seu desenvolvimento.
  • Adultização, de Felipe Bressanim, o Felca, (vídeo no YouTube): o influenciador explica a relação entre a adultização infantil e os algoritmos de redes sociais.
  • Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): estabelece os direitos das crianças no Brasil.
  • Documentário O Lado Sombrio da TV Infantil: mostra as violências ocorridas nos bastidores dos clássicos programas infantis dos anos 1990 e 2000.

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Exemplo de redação pronta sobre adultização infantil

Em agosto de 2025, o influenciador digital Felipe Bressanim, o Felca, impactou a internet ao divulgar um vídeo sobre a adultização infantil nas redes sociais. Nessa oportunidade, ele evidenciou como os algoritmos potencializam e ampliam esse tipo de conteúdo e como determinados influenciadores têm obtido lucro explorando essa prática. Desse modo, um problema já existente na sociedade ganhou maior visibilidade e reforçou a necessidade de debate público. Nesse contexto, torna-se fundamental compreender como as famílias contribuem para a adultização e de que forma isso fere os direitos da criança.

De acordo com De Paula, De Marco e Schlosser (2019), em Adultização e erotização infantil: a influência social, a família é um dos agentes responsáveis pela antecipação de responsabilidades às crianças. Assim, aqueles que deveriam protegê-las acabam, muitas vezes, expondo-as a situações de responsabilização e exposição inadequada. Esse dado é alarmante, pois revela o quanto as crianças podem ser vítimas dentro de seus próprios lares, dificultando a denúncia e a identificação do problema, sobretudo porque tais práticas são naturalizadas no espaço privado e público e justificadas pela cultura de autoridade paterna e materna. Sendo assim, torna-se fundamental compreender o papel familiar na perpetuação do problema.

Além disso, é necessário reconhecer que a adultização constitui uma violação direta dos direitos infantis. Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), toda criança tem direito à integridade física, psíquica e moral. Nesse sentido, ao impor responsabilidades excessivas ou padrões estéticos e comportamentais típicos de adultos, as famílias e demais responsáveis privam as crianças de uma vivência adequada à sua fase de desenvolvimento, comprometendo seu bem-estar e sua formação integral e ferindo seus direitos enquanto cidadãos.

Portanto, combater a adultização infantil é essencial para assegurar os direitos garantidos pelo ECA. Para tanto, a Câmara dos Deputados, em parceria com o Ministério da Educação e especialistas da área da infância, deve elaborar e aprovar um conjunto de leis que conceitue e combata a adultização infantil, também no convívio familiar, a fim de garantir uma identificação e atuação rápida e efetiva, evitando que os cidadãos infantis sejam privados de um desenvolvimento saudável e íntegro, como lhes é direito.

(texto autoral)

Fontes

BARROS, Renata Armelin Ferreira; BARROS, Denise Franca; GOUVEIA, Tânia Maria de Oliveira Almeida. Crianças como pequenos adultos? Um estudo sobre a percepção da adultização na comunicação de marketing de empresas de vestuário infantil. Sociedade, Contabilidade e Gestão, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 6-24, set./dez. 2013. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/scg/article/view/1935.

DE PAULA, Marcos Henrique Pereira; DE MARCO, Taisa Trombetta; SCHLOSSER, Adriano. Adultização e erotização infantil: a influência social. Anuário Pesquisa e Extensão Unoesc Videira, 2019. Disponível em: https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/apeuv/article/view/20431.

FERREGUETT, Cristhiane. Relações dialógicas em revista infantil: processo de adultização de meninas. 2014. 243 f. Tese (Doutorado em Letras) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em convênio com a Universidade do Estado da Bahia, Porto Alegre, 2014. Disponível em: http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/462673

FERREIRA, Hugo Monteiro; FERREIRA, Fernando Ilídio; MELO, Bruno Cézar de Farias. A adultização infantil na contemporaneidade: as escolhas das crianças. Revista Humanidades e Inovação, v. 8, n. 68, p. 209-223, 2022. Disponível em: https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/7040.

NETTO, Carla Freitas Silveira; BREI, Vinícius Andrade; FLORES-PEREIRA, Maria Tereza. O fim da infância? As ações de marketing e a “adultização” do consumidor infantil. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, v. 11, n. 5, p. 129-150, set./out. 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S1678-69712010000500007.

SAMPAIO, Evillyn Oliveira; CARVALHO, Matheus Alefe Tenório; NASCIMENTO, Vanessa Gomes do; FERREIRA, Josivete Maria do Nascimento. Influência das mídias sociais no processo de erotização infantil: fator determinante para um processo precoce da adultização? Revista Lepidus, v. 8, n. 1, ago. 2022. Disponível em: https://lepidus.com.br/ojs/index.php/revista/article/view/123.

VIEIRA, Phablo Alves. A adultização infantil e a forte presença de influenciadores mirins em plataformas digitais sociais: um caso no Instagram. 2023. 82 f. Monografia (Bacharelado em Jornalismo) – Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2023. Disponível em: https://www.ufop.br/repositorio/monografia/0607189

Videoaulas


Título "O ENEM 2025 pode cobrar ADULTIZAÇÃO na redação?" escrito sobre fundo roxo com imagem do Felca ao lado.
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