Tráfico de vidas

Motoristas: inábeis, estressados, desconhecedores das normas de trânsito. Ruas, estradas e avenidas: sem sinalização, com excesso de veículos e em mau estado de conservação.Dessa forma, não poderia ser harmônico o tráfego rodoviário brasileiro. Diante de entraves com causas múltiplas, não basta conscientizar, não basta punir!

Recentemente, o filho do bilionário Eike Batista matou um homem que voltava para casa embriagado sobre uma bicicleta. Ambos estavam errados, pois Thor Batista dirigia a uma velocidade superior ao permitido na via. O jovem "pilotava" uma Mercedes capaz de atingir 384 quilômetros por hora, enquanto as estradas de tráfego rápido - no Brasil - permitem velocidades máximas de 110 quilômetros por hora. Já o Porsche que matou Carolina Menezes Cintra Santos, de 28 anos, atinge a marca de 279 quilômetros por hora. Mas, esse não é o único paradoxo que compõe o trânsito do país. É ilógica a presença de placas alertando a exata localização de radares eletrônicos. Assim, é possível reduzir a velocidade e ajudar a construir boas - e falsas! - estatísticas para o Departamento Nacional de Trânsito (Detran).

Nos centros urbanos, motoqueiros suicidas - imprudentes e sem a devida proteção - aumentam a lista criminal do tráfego automotivo - talvez seja essa a origem da confusão vocabular que se faz entre "tráfego" e "tráfico". Casos como o de Thor, o de Carolina e dos inúmeros motociclistas que morrem diariamente são noticiados como "acidentes". Entretanto, a justiça vem agindo para mudar essa interpretação. O motorista do Porsche, por exemplo, foi indiciado por homicídio doloso, crime no qual há intenção de matar. Essa diretriz deve ser tomada pelas campanhas de conscientização, pois somente quando motoristas e transeuntes enxergarem os veículos como uma possível arma será possível limpar o sangue do asfalto brasileiro.

É mister também que os governos federais e estaduais tenham essa visão e saibam que as deficiências infraestruturais aumentam o poder letal dessas "armas". Ademais, devem dar maior importância à fiscalização de autoescolas e provas práticas e teóricas de trânsito, as quais são pouco eficientes e, muitas vezes, desonestas. É fundamental ainda que o tema chegue às escolas, já que pedestres e veículos de tração animal e humana - como a bicicleta - também fazem parte do trânsito.